
Semana passada eu conversei com uma de nossas leitoras e naturalmente acabamos falando de preferências musicais. Existem algumas bandas que atingiram um patamar quase que divino. São bandas quase unânimes, que despertam grandes paixões entre seus seguidores. Qualquer palavra mal colocada sobre elas é capaz de gerar uma reação nervosa. Entre estas bandas eu coloco como exemplo o U2, Pink Floyd e Legião Urbana só para ilustrar.
Destaco que este post é apenas uma opinião e ótica individual, não estou aqui para ser aceito ou mesmo escurraçado! hehehehe
A primeira vez que vi o U2 foi no Live Aid (1985). Eu era um muleque, um pivete, um meio toco de gente, mas já tinha as minhas convicções roqueiras na veia e na alma, mesmo com 9 anos de idade. Lá estava eu na frente da televisão Sharp de 20 polegadas, a primeira com controle remoto que entrou em casa, grande orgulho da família. Fui pego de surpresa por uma poderosa versão de Sunday Bloody Sunday, não entendi nada, mas foi interessante a minha reação. Anotei num papel a banda e música e lá fui eu torrar a paciência dos meus pais para ir na Sears (lembram?) para achar essa "nova" banda para comprar.
Ouvi o Under a Blood Red Sky ineterruptamente por horas a fio. Para não deixar a minha mãe louca, eu usava fones de ouvido que mais pareciam xícaras! Aliás eles estão na ativa até hoje. Desde então os meus presentes de aniversário e dia das crianças eram os discos de vinil do U2. Lembro que em março de 1988, ao completar 12 anos, meu pai me levou até a Bruno Blois do Shopping Ibirapuera para escolher um disco. Era um sábado de manhã. Fui feliz pra casa com um disco duplo que meu pai não queria comprar, pois era mais caro que a média!
Depois de quase 25 anos ouvindo U2, eu divido a banda em 4 fases:
1) Fase rebelde, fase crua (1980-1983).
- 1980 - Boy
- 1981 - October
- 1981 - War
- 1983 - Under a Blood Red Sky
Neste período, os 4 irlandeses, ainda jovens estavam com muita influência punk, músicas nervosas, hinos como Sunday Bloody Sunday, New Year's Day, I will Follow e The Eletric Co. davam o tom rebelde, passional, teatral e agressivo da banda na época. Foi mais do que suficiente para lançar a banda ao conhecimento mundial. Minha nota pessoal para esta fase: 7,5.
2) Fase rápido amadurecimento (1984-1990).
- 1984 - The Unforgettable Fire
- 1987 - Joshua Tree
- 1988 - Rattle and Hum
Os 4 garotos tiveram que amadurecer rapidamente. Deixaram de ser rebeldes para comporem músicas reflexivas. O nervosismo mudou de tom, deixava de ser provocativo, e passou a ser angustiante. Fase fantástica, início de tournês mundiais e grandes produções que se tornaram marca registrada da banda. As músicas não são mais hinos, são fonte de reflexão onde cada pessoa usa o seu repertório individual para se espelhar ou entender o que Bono e companhia querem dizer. Alguns destaques entre dezenas: A Sort of Homecoming, The Unforgettable Fire, Bad, todo o lado B do Joshua (de Running to Stand Still a até Mothers of the Disappeared). São músicas mais íntimas, maduras e sofisticas, com um tom angustiante.Nota para esta fase: 9,5; só não é 10 pois o Rattle and Hum parece "sobras" que não entraram no Joshua Tree. Sem dúvida, a melhor fase da banda, mesmo considerando que meu disco favorito está na fase seguinte, o Achtung Baby.
3) Fase experimentações (1991-1999).
- 1991 - Achtung Baby
- 1993 - Zooropa
- 1997 - Pop
Megalomania, experiências, Bono endeusado, falta de criatividade, perda de identidade, controvérsias, década estranha... ??? O que aconteceu??? Onde estão os hinos, a rebeldia e a atitude??? Eletrônico???
Engraçado, como já comentei, meu disco favorito é o Achtung Baby, creio que ele tem a dose exata entre o rock tradicional, experiências, melâncolia e um leve, mas muito leve toque eletrônico. O disco é sensacional, digno de ser ouvido e reouvido. A cada audição você perceberá um novo tom, um acorde distinto uma harmonia escondida. Fantástico! Lembro o dia que comprei o cd, foi em dezembro de 1991, na finada Mesbla do Shopping Paulista. Tive a sorte de comprar uma versão alemã que se diferencia pelo CD que é todo pintado e não apenas "cromado". De cara fui hipnotizado por The Fly, Light my Way, Even Better than the Real Thing, Until the End of the World e a melosa One. Nota 11 para o disco! (Que exagero)
O Zooropa é experimental demais, muito abstrato para meu gosto pessoal e o Pop... ai ai ai... um disco divertido, mas podia ter sido gravado por qualquer banda colegial, creio que é o disco mais "sem inspiração" do U2. Last Night on Earth e Staring at the Sun são bacanas, mas não suficientemente U2. Nota para esta fase: 8,0; muito por causa do Achtung Baby e minha tendência pessoal pelo álbum.
4) Queremos nos aposentar (2000-atual).
- 2000 - All That You Can't Leave Behind
- 2004 - How to Dismantle an Atomic Bomb
- 2009 - No Line on the Horizon
Nesta fase eu já não fui mais atrás dos lançamentos do U2 como mosca no mel. Os discos são bem gostosos de ouvir, um retorno "as origens", misturando riffs quase nervosos, com boas baladas. São discos que você coloca para tocar e ouve do começo ao fim. A banda não se arrisca mais, não se esforçam ou não querem inovar, por isso eu chamei de "queremos nos aposentar". Me parece mais fácil misturar o que deu certo nesta vitoriosa carreira e compilar em discos que trazem músicas que os fãs esperam do que renovar. Confesso que esta é uma tática utilizada por grande parte das bandas que muito inventou nos anos 90 depois de estrondoso sucesso nos anos 80, vide Metallica e Iron Maiden por exemplo.
O tom das músicas são mais sóbrios, relaxantes e melados. Para ilustrar este adjetivo cito alguns exemplos: Beautiful Day, Walk On, All Because on You e Magnificent (muito boa por sinal). A minha nota pessoal para esta fase é 8,5.
Se as fases fossem bimestres escolares, o U2 passaria fácil de ano, um começo rebelde, mas com muita personalidade. Passou por um rápido amadurecimento, relaxou e experimentou, não deu muito certo, mas a experiência foi legal (como diria Oscar Wilde, a experiência é o nome que damos para as coisas que fizemos e não deram certo!). Por fim, entenderam que não precisam arriscar para agradar e atender os milhões de ardorosos fãs!
Para terminar este longo post, coloco na sequência as notas pessoais que dou para cada álbum.
- 1980 - Boy = 7,0
- 1981 - October = 7,5
- 1981 - War = 8,0
- 1983 - Under a Blood Red Sky = 8,0
- 1984 - The Unforgettable Fire = 9,5
- 1987 - Joshua Tree = 10,0
- 1988 - Rattle and Hum = 8,0
- 1991 - Achtung Baby = 10,0
- 1993 - Zooropa = 7,0
- 1997 - Pop = 7,5
- 2000 - All That You Can't Leave Behind = 9,0
- 2004 - How to Dismantle an Atomic Bomb = 8,0
- 2009 - No Line on the Horizon = 8,0
Média final: 8,27
jk
Parei de ler quando li "Legião Urbana"...
ResponderExcluirLegião Urbana é uma merda e ponto.
Muito bom o post e a análise. Eu só aumentaria a nota do Rattle :)
ResponderExcluirO Achtung Baby também é meu CD preferido. Até hoje a The Fly me faz ter contade de aprender a tocar guitarra.
Kuhar, parabens... realmente demais o texto. Concordo quase que 100% com você. Boa! Abs
ResponderExcluirG.
Fala Bacana
ResponderExcluirAchtung Baby é top ten meu fácil...Melhor disco de "final de relacionamento" já feito...nada me convence contra que todo o "mote" do álbum é um só: mulher, no sentido "acabei de levar um pé na bunda" Grande ano para a música..1991.
(Aliás Alan, não sei para vc mas a fase entre 1988 e 1992 foram escritos os melhores álbums de todos os tempos na minha opinião, excepto a fase 94-96 do Oasis, que é insuperável...rs
Abs, Moscarelli
Meu Deus, como esse papo rendeu! Me sinto lisonjeada por uma de minhas bandas preferidas entrarem com tanta propriedade neste tão bem frequentado blog!
ResponderExcluirValeu, Alan! Sears, Mappin... Vejo que estou ficando velha!