sexta-feira, 21 de maio de 2010

Uma história do outro mundo

por Zezé


Já faz tempo que os extraterrestres estão entre nós. Eu ainda não tinha nascido quando minha mãe topou com um deles. O ET não desceu de nenhum OVNI, não tinha cabeção nem corpo esverdeado, estava disfarçado de humano e conduzia um táxi.


Conforme me relatou muitos anos depois – o acontecimento virou uma espécie de anedota na família – mamãe pegou o táxi na porta de casa, como fazia diariamente para se dirigir a escola onde lecionava. A certa altura do trajeto, o sujeito, que até o momento parecia tão terráqueo e inofensivo como uma minhoca de jardim, ajeitou o retrovisor, olhou fixamente para mamãe através do espelhinho e soltou:


– Eu não sou daqui!


Até aí nenhuma novidade, o Brasil sempre foi a casa da mãe Joana. E o Rio de Janeiro, em particular, atraía gente de todos os cantos. Afinal, era capital do Brasil, a cidade maravilhosa e, como canta o hino da própria, cheia de encantos mil. Mamãe mesmo, apesar de carioca da gema, era filha de italianos. E o senhor é de onde? – Perguntou, simpática.


– Do planeta Zion, localizado na órbita estelar Alpha3. – Respondeu o confesso ET, enquanto virava-se para trás e depositava sobre o colo de mamãe, totalmente perplexa, um dossiê espiralado sobre o tal planeta.


Para botar ainda mais lenha no pânico que começava a incendiar seu corpo o ET prosseguiu: – na verdade eu sou a alma gêmea deste taxísta e como eu existem muitos espalhados na Terra. Há mais de 1 milhão de anos estamos infiltrados entre vocês, coletando dados, amostras..., pesquisando minuciosamente o comportamento humano e as características do seu planeta.


Mamãe ficou muda de medo, a cabeça em polvorosa, pedindo com toda a força do pensamento para Deus e todos os santos que a livrassem daquele taxista lunático, invasor de corpos, funcionário sideral de um tipo de IBGE interplanetário.


Neste momento o sinal fechou e o ET esticou o braço direito para trás arrancando da boca de mamãe um grito que, de tão estridente, também o fez gritar de susto.


– Calma dona, eu sou um ser de luz, um ser pacífico, só queria lhe mostrar no livro aonde está localizado exatamente o meu planeta.

– Desculpe – disse baixinho mamãe com a voz embargada.

– Sabe, dona, qual o maior problema deste planeta? Tá cheio de maluco!


Depois deste contato de 3º grau, os 5 minutos restantes do percurso foram transcorridos no mais absoluto silêncio. Assim que chegou ao destino o ET parou o carro:

– Pronto, a senhora chegou. Sã e Salva!

– Quanto lhe devo? – Perguntou mamãe abrindo a carteira.

Nada, dona. Minha missão na Terra não é ganhar dinheiro. Como já lhe disse é puramente científica.

Vendo que a porta do táxi estava aberta, um rapaz se aproximou, colocou a cabeça na janela e perguntou:

– O senhor está livre?

– Um momentinho, por favor. A senhora já vai sair.

– Vamos dona, deixa o livro no banco e vai embora, o passageiro está esperando.


Mamãe saltou do táxi meio desconcertada, com as pernas bambas e o dinheiro na mão.

Não cobrar a corrida, definitivamente, não era deste mundo.

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